segunda-feira, 3 de março de 2008

Adeus Maria Gabriela Llansol

O mundo está mais pobre. As palavras que respiram um viver profundo, delicado no sentir, que tocam, na ponta dos dedos, a aragem fria de um entardecer no campo, que se desviam dos caminhos vulgares desta cegueira apressada do consumo, tão distante do corpo e de si mesmo, são cada vez mais raras.
Maria Gabriela Llansol morreu.
É mais uma dessas vozes luminosas, cheias das cores variadas do sentir, por dentro e por fora, daquelas que nos indicam o mundo,que se calam.
Fica apenas uma breve, pequena, recordação:

«desejo de ler, não de escrever. Desejo de dispersar, não de reunir. Afastando-me da escrita, o texto lido, em espiral, é o pequeno quarto - o quarto último da Casa, a peça que mantém firme o verbo. De nada tenho a verdade, tenho intuições fulgurantes que me deixam nua de expressão. O sol atravessou-se na porta, as túlipas começam a aparecer em frente da ampla janela da cozinha, e eu penso no
antes,
e no depois
da casa.»

«Jodoigne, 3 de Março de 1976», de Maria Gabriela Llansol, em «finita»

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