quinta-feira, 13 de setembro de 2007

«Putas» está de volta


Surgiu pela primeira vez em 2002. Chama-se «Putas». Apenas assim. Um livro que surgiu pela primeira vez por alturas do Natal, numa edição da Quasi e consta de um conjunto de textos representativos do «novo conto português e brasileiro».

Onze contos portugueses (de Ana Paula Inácio, Claudia Galhós, Filipa Melo, Francisco Duarte Mangas, João Paulo Sousa, Jorge Reis-Sá, Mafalda Ivo Cruz, Manuel Jorge Marmelo, Maria do Rosário Pedreira, Possidónio Cachapa e Rui Zink) e dez brasileiros (Cintia Moscovich, Clarah Averbuck, Fernanda Benevides de Carvalho, Ivana Arruda Leite, Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Marcelo Mirisola, Nelson de Oliveira, Nilo de Oliveira, Wilson Freire), com abordagens totalmente distintas e pessoais, ao desafio proposto pela editora de escrever a partir desse imaginário tão íntimo que é tudo o que pode caber na palavra «putas».

Há muitas histórias aqui que merecem ser descobertas e lidas. Cada um terá o seu conjunto de preferidos. Eu tenho o meu. São vários. Alguns portugueses e outros brasileiros. Entre eles está o meu. Devo confessar.

Utilizando o lado mais pessoal dos blogs, e não querendo cair nessa ladainha cansativa do umbigo, gostava apenas de partilhar que este é talvez o texto, dos meus textos curtos (e tenho muitos), que mais gosto. Chamei-lhe «O Corpo Trágico» e ainda hoje esta personagem me comove sempre que regresso a ela, nem que seja apenas por um breve instante de memória.

Partilho a alegria de saber que o livro vai ser relançado, com nova capa (que publico aqui). E deixo um pequeno excerto desta mulher que se esconde quando se esquece do corpo que tem.

«Gosto de inventar estados mentais. Uma vez criados, instalo-me neles e recuso-me a abandoná-los. Habito um corpo usado e abusado. Recorro frequentemente ao esquecimento para apagar a memória desse uso indevido do corpo. Tenho momentos de prazer. Por vezes fujo da desolação ao entregar-me a um suspiro de delícia. Recordo-me de alguns desses instantes. A recordação surge em mim acompanhada de um sorriso. Mas são raros.»

Agrada-me particularmente pensar que este pode ser um maravilhoso livro de Natal. Para não sermos todos tão hipocritamente politicamente correctos e porque há aqui textos que são mesmo bons.

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